quinta-feira, outubro 27, 2011

Caos

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A cada fato, guerra, cometa, terremoto, a cada momento lembram os apocalípticos que o fim do mundo está perto e, apesar da incerteza de quando será, é fato que tudo o que tem princípio termina, logo, a qualquer instante pode ser chegada a hora.
Mas, antes de pensar no mundo e seu fim, vemos os habitantes – humanos – trilhando caminhos temerários, sombrios, materialistas, e, por demais, ambiciosos e egoístas.
Crescimento populacional e desigualdades sociais agravam a violência que alarma, cujo sistema abisma a distância entre a base e o ápice, diferencia semelhantes, e faz do homem, sim, lobo do homem.
Mais de sete bilhões somos, englobando muitos bilhões de miseráveis e outro tanto de famintos, sendo grande o número de operários – laboriosos, enquanto há alguns milionários – insaciáveis por fortuna e poder e uns poucos multibiliardários – e, dentre esses, os donos do mundo – e do destino de todos os demais.
A pirâmide social representa modelo faraônico-moderno fragmentado, já incompatível com a atualidade e os anseios e necessidades dos povos, configurando insustentável edificação – ficção(?) – ruinosa, que cairá certamente, como os demais modelos já ruídos.
Em todos os lugares e momentos os movimentos de massa registram a insatisfação crescente e sem controle, maior parte sem-nada, estampa-se o clamor dos sem-apoio e sem-amparo, dos sem-esperança em outra forma de mudança que não o arrebatamento, o dilacerado romper do que não se suporta, nem se sustenta, e ainda que se exponha à morte, antes esta do que as dificuldades e impossibilidades de sempre, da voz que não se ouve, do grito contido, do peito oprimido, dor sufocada transmutada em lágrimas.
O que faz o homem no paraíso?
Já não adianta fazer de conta que não se vê o que se passa, ao lado e ao largo, a estabilidade instável joga como as placas sob a superfície, desequilíbrio que sugere o caos, recorrente e certo, questão de tempo, apenas.
Dizem uns, que é preciso pensar nos bons, nos pobres, nas crianças, nos idosos, certo, outrossim, que precisamos pensar nos homens – e mulheres –, na possibilidade de fazer algo – novo? Lúdico? Vontade para recriar cultura, humana, refazer a história, por outros meios desfazer a crença – insana – de que uns sejam mais e outros pouco, ou nada, baixar à guarda, deixar as armas, atentar à vida, abrir o coração, estender a mão, ao irmão, porque é isso o que somos, todos, apesar das mentiras atávicas remanescentes da cultura das cavernas.
Nosso planeta é o paraíso criado para a existência humana, recriado purgatório para a expiação individual e coletiva.
Por que o homem se trata tão mal?
Por que não se respeita e aos demais?
Por que não admite que sofre e se redime?
Por que não acolhe o semelhante como a si?
Por que não vê que aqui se pode tudo, de bom, e que o mal é uma disfunção e uma inversão de como ser e viver?
Por quê?
Porque – sinceramente – não se conhece e não se vê, não reconhece merecer amor verdadeiro, por isso se permite sofrer, reciprocamente.
A cultura, ainda, formata a mente em padrões, estereotipa, distingue, segrega, beneficia e pune, forma o homem 'sócio-adaptado', em castas, define conformados-resilientes, contestantes-revolucionários e revoltosos-obstinados, dentre outros, vários, num universo infinito de pensamentos e ações, que perfazem a realidade estampada no cotidiano.
Vivemos a cultura material da felicidade, que fomenta a ideia de que a felicidade está nas coisas, tem valor e, portanto, pode ser comprada, e que essa tal felicidade, ainda que subjetiva e impalpável, se encontra em algum ponto impreciso entre a dúvida e a certeza, a segurança e a liberdade, inacessível, intangível, inimaginável.
O homem está doente e cada dia mais solitário. Pessoas buscam-se incansavelmente sem encontrar-se. Os distantes sonham aproximar-se e os próximos querem distância. Todo mundo se vê e pensa em si, quer para si, mas poucos – bem poucos – se dispõem a doar.
Diz-se que o mundo está um caos.
Caos é prenúncio da transformação, faz parte da eterna perfeição do Criador, que não permite que nada permaneça e que tudo se renove... eternamente.
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